domingo, 21 de abril de 2013

Um fato que me aconteceu depois de te conhecer: não existe mais nenhum assunto sobre o qual valha escrever, que não seja sobre ti. Nada é mais bonito ou verdadeiro quanto você. Tuas piadas, ou o modo como balanças despreocupado na rede. Nada além da varanda, que nos esconde entre as sombras do final de tarde. Nada é melhor do que o beijo trocado no escuro, feito pelos olhos fechados. Estou cá pensando. Esperando teu retorno. 
Escrevo. Sobre ti, sobre nós, sobre tudo.

- Larissa Rebecca
Estação de seis mãos

Eu havia viajado por quinze dias. Distante do "mundo real", a diversão era enorme, mas quase utópica: eu precisava voltar. Encontrava-me no trem e as minhas únicas companhias não paravam quietas. E olhe que nem estou falando dos vendedores de balas, óculos e outras geringonças - estes já estavam indo, silenciosos, para outro vagão. 

Falo dos pingos de chuva, que pareciam estar se divertindo bem mais do que eu, indo pra lá e pra cá. Observava-os à janela, como quem admira algo absurdamente frágil e ainda se diverte com isso. "Qual deles será que chega à base da janela primeiro? Quem será o pingo campeão"? Ali, eu tentava ludibriar a minha mente com futilidades, mas logo chego à conclusão de que tudo isso provém da enorme saudade que tenho de lá.

"Quinze dias sem fazer a barba", pensei. "Minha mãe não vai gostar nada disso". E depois começo a rir, sentado no meu banco. Um pouco mais à frente, tinha uma moça lindíssima de cabelo cacheado e fones de ouvido. Do lado dela, um senhor cochilando. Do nada, ele acorda num susto. Agora me pergunto: como diabos ele conseguiu dormir com esse chacoalhar de trilhos?

Encostei a cabeça na janela, tentando em vão cochilar. É, em vão. A saída foi ficar com os olhos fechados por alguns instantes, apreciando o frio da vidraça roçando a minha testa. Estava absurdamente quente para um dia tão chuvoso. Ignorando a maluca temperatura da cidade, o senhor assustado já estava dormindo de novo. Já a moça, ah, a moça continuava entretida com seus fones de ouvido e suas baquetas imaginárias. Imagino que estivesse ouvindo Rolling Stones ou coisas assim.

Voltei a olhar os pingos de chuva escancarados à janela. Das duas uma: ou eu os admirava em sua plena fragilidade ou eles que estavam espiando as minhas fraquezas humanas. As duas alternativas são curiosas. A realidade é, em si mesma, curiosa.

(Dila Medeiros, Larissa Rebecca e Lucas Martins)

"Acostumei-me tanto a tua bagunça que agora viver no silêncio incomoda. Nunca imaginei que sentiria falta de sua mania de desarrumar tudo, de sua implicância com meus sermões e de sua teima em tirar cada coisa do seu lugar. Não tive muita paciência, confesso. Esse foi meu pesar. Não sei viver assim, de conta-gotas. Meu pior defeito tenha sido talvez o de levar tudo ao pé da letra. Sempre. Queria-me quieta, serena e silenciosa. Era chata sim. Tudo ao contrário do que era você.

Sua realidade é bem simples e isenta de mistérios. Já tem algum tempo e sequer comecei a me adaptar ao silêncio que é agora minha. Se fosse antes, garoto... Antes eu precisaria dela e a receberia de braços abertos.

Pensava que todas as coisas boas não seriam suficientes para me fazer permanecer e agora sinto falta de tudo. Ruim é esse orgulho besta que não me permite voltar atrás. Vou esperar, então. Isso agora é só uma cena depois dos créditos finais. Um pequeno sorriso e logo após, o epitáfio.
* * *

É bem verdade que meus dias tornaram-se gris e gélidos depois que você partiu dizendo que não voltaria mais e me pedindo respeito por sua decisão. E eu respeito, mas isso não me impede de sentir falta. E eu a sinto em cada canto deste apartamento agora sem vida.

Quero-te de volta, com sua mania de arrumação e seus — raramente irritados — sermões que misturados ao tocar de algum dos meus velhos discos ou ao ensurdecedor volume da tv traziam a sonoridade que eu sequer sabia precisar aos meus dias. E confesso: é atormentador esse querer.

Mas você não vai voltar e eu sou orgulhoso demais para correr atrás, então aceito e sigo nesta rotina que alguém estipulou como padrão. Trabalho, barzinho e então minha sempre bagunçada cama, agora vazia. E é nela que você me assalta, rouba-me de mim e faz com que eu perceba que uma vez mais me encontro vazio, porque você me levou junto quando se foi e agora só há você em mim, mas balanço a cabeça espantando os pensamentos e murmuro um xingamento à minha imensa estupidez.

Sinto vontade de te ligar, não nego. Penso em pegar o telefone e fazer um pedido de desculpas, dizer que estou mudando e tentando ser mais organizado, mas você não acreditaria; da mesma forma que eu próprio não consigo. Eu não sei mudar dessa forma, a pedidos. Não é e nunca virá a ser assim que as coisas funcionam.

Dias desses contratei uma diarista e antes de sair para o trabalho lhe pedi que me arrumasse o apartamento de uma forma diferente, como se dessa forma pudesse também afugentar seu fantasma, que parece habitar cada espaço. Tolice minha, admito. Mas assim são os homens, sempre propícios a fazer coisas estúpidas na esperança de fugir dos fantasmas de seus passados.

E ainda agora, enquanto observo a chuva caindo próximo à janela, sei que ainda que demore chegará o dia em que você não será meu primeiro pensamento do dia e que eu não mais esperarei que a porta se abra abruptamente revelando-me você, de malas cheias e coração aberto, dizendo que voltou, para ficar. Essa certeza me apazigua e apavora ao mesmo tempo e eu gostaria de perguntar a alguém o que virá depois, mas sei que seria inútil. São coisas que ninguém sabe."

- Retalhos, por Larissa Rebecca e Caleb Henrique

sábado, 5 de janeiro de 2013

Queria escrever sobre o menino que tem me feito feliz a um tempo. Escrever sobre o frio da minha pele ou do calor que emana do seu corpo. Ou ainda da gostosa sensação de me sentir apaixonada. Queria descrever esses sentimentos que já não sentia a muito. Escrever inclusive sobre a saudade, em preto e branco em que fico com vontade de colorir. 

— Larissa Rebecca
Ah, eu queria que você viesse. Mais uma vez, uma dose do seu carinho. Por favor. Enquanto isso, fico ao lado do telefone, esperando-o tocar e ouvir sua voz dizendo bem mansinho que virá. Que está chegando. 
O coração apertado, pequenino. 
Me diz, moço, quando foi que o mundo perdeu importância só pra eu ver teu sorriso? Me diz como foi que eu nem percebi? Faz três dias que não te vejo, que mais parecem décadas.
Seu cheiro na roupa, seu gosto na boca e seu rosto na memória.
Vou colocar um sorriso no rosto, abrir a janela, deixar a luz entrar. Vou pedir pra que a semana acabe logo, que esses minutos passem depressa. Ai sim, vou te olhar nos olhos, sorrir em silêncio e pedir que esse momento demore a passar.
— Larissa Rebecca